quarta-feira, 23 de outubro de 2013

Alfa e Ômega (2) / 13 (9) / Fúria (7)






   Em algum desses fumódromos a algumas noites atrás me deparei com uma roda de senhores muito distintos, com seus ternos caros e uísques superfaturados em mãos. Riam alto e conversavam de uma maneira bem deselegante. Lá pela metade do meu cigarro um deles dirige a palavra a minha pessoa:
   - Ei cara, você é católico?
   Não gostei do tom dele e mesmo não sendo respondi de bate-pronto:
   - Sou sim irmão! 
   Pensei em algum trocadilho na hora, mas como não houve latência respondi assim bem curto e com firmeza, após alguns segundos de silêncio continuei:
   - Não, estou brincando... não tenho religião...
   Então o cidadão começou a contar uma piada de muito mal gosto envolvendo uma freira, um padre, um coroinha e sexo oral. Acelerei as minhas tragadas para sair daquele lugar e em meus últimos tragos mais uma vez o ilustríssimo senhor dirigiu-se a mim:
   - Você mora onde? Em que bairro?
   - Ali entre a Lapa e Alto de Pinheiros...
   - A sim, tem alguma reclamação sobre a prefeitura?
   - Nenhuma específica...
   - Nem sobre calçamento, iluminação, água.... nada?
   - Ah! Sempre tem né...
   - Pois aproveite até o final do ano que o ano que vem vai continuar a mesma merda!
   Nisso um outro senhor que o acompanhava completou:
   - Somos todos da subprefeitura XYZ...
   Joguei meu cigarro fora rapidamente, fiz um sinal da cruz e me retirei dizendo:
   - Creioemdeuspai! Deixa eu sair daqui...
   Eles ficaram em silêncio e mesmo não sendo católico voltei ao bar pensando como as pessoas que se prezam a trabalhar no funcionalismo público podem ter orgulho de sua própria incompetência daquela maneira tão arrogante. Na hora senti apenas nojo e pensei na questão da corrupção e da falta de respeito com nossa população.
   Conheço vários funcionários públicos que são responsáveis e comprometidos com o que fazem, mas aqueles distintos senhores todos entre 40 e 60 anos, em seus trajes caros com bebidas chiques e falas cínicas representavam a corja que há de pior em nosso belo país. Uma coisa é não crer na justiça brasileira mas será que em seus íntimos nenhum deles acredita em justiça divina ou na lei do retorno do próprio Universo? Sem pregações religiosas, acho que é da própria lei da física de ação e reação, sei lá.
   Alguns dias depois retomei sem querer a cena em minha mente e me enraiveci, talvez eu devia ter dito ou feito alguma coisa. Que raiva, quanta falta de consideração pelo próprio trabalho e pela justiça. Digo e se, eu fosse um agente da Polícia Federal ou fiscal... Provavelmente seriam esnobes e debochados da mesma maneira e se eu os questionasse alegariam que era uma brincadeira ou papo de bar. Sem dúvidas a impunidade é o câncer do Brasil.


 

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